10/101. Nomadland (2020)
Nota: 🚐🚐🚐
Dir.: Chloé Zhao
Somos uma página simples, sabe? Vemos Frances McDormand, já assistimos.
A despeito, porém, de uma performance poderosa, que elevaria qualquer filme, Nomadland tem os primeiros trinta minutos mais intensos e emocionalmente envolventes para, então… nunca decolar.
Fern (McDormand) é uma viúva que perdeu tudo na grande recessão de 2008. Vagueou de empreguinho em empreguinho, de professora substituta de literatura a empacotadora da Amazon. Sozinha, sem família, aos sessenta, sua vida é solitária e miserável ao ponto de morar numa van — o que tem de mais próximo para chamar de lar.
Nisso, ela descobre que existe toda uma comunidade de “moradores de carros”, que promovem encontros, se apoiam mutuamente e vagueiam pelo país em busca de viver de momentos, em oposição a construir um patrimônio.
E eis que o filme começa a perder tração. Após um primeiro encontro de arrepiar a epiderme, com direito a discursos inflamados sobre a precariedade da classe trabalhadora, depoimentos reais de nômades interpretando a si mesmos, socialização de bens e conhecimento, e belas canções à luz da fogueira; Nomadland envereda por um ciclo vicioso e cansativo, que retrata com amargura a dureza dessa vida na estrada, uma imagem brutal da realidade do capitalismo tardio — mas não parece ter a coragem de tocar a curva da crítica sequer tangencialmente.
É um filme bonito (apesar de doloroso), e muito bem dirigido, mas cujo arco não implica em redenção ou catarse que interesse a qualquer um senão a própria personagem. É difícil de empatizar, uma vez que nós (a esmagadora maioria do público) nunca experimentamos tal nível de pobreza. E aqueles que experimentaram provavelmente nunca terão uma chance de assisti-lo.
Falando do status quo pelas costas, mas sem se atrever a desafiá-lo, Nomadland infelizmente engata a segunda marcha só para ficar sem combustível no meio do caminho. 🦉
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